Já aconteceu com alguém de pegar um livro para ler sem esperar muito dele e (BAM!) você se surpreende muito e mesmo depois de três anos você ainda está em fase de análise da estória?  Bem, esse tem sido o meu relacionamento com ‘Admirável Mundo Novo’ (Aldous Huxley)...





Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley
Páginas: 312
Editora Globo


Sinopse:

       Ano 634 d.F. (depois de Ford). O Estado    científico totalitário zela por todos. Nascidos de   proveta, os seres humanos (pré-condicionados)    têm comportamentos (pré-estabelecidos) e            ocupam lugares (pré-determinados) . A droga soma é universalmente distribuída em doses    convenientes para os usuários. Família, monogamia, privacidade e pensamento criativo constituem crime. Os conceitos de "pai" e "mãe" são meramente históricos. Relacionamentos emocionais intensos ou prolongados são proibidos e considerados anormais. A promiscuidade é moralmente obrigatória e a higiene, um valor supremo. Não existe paixão nem religião..

                                                                                                            Skoob.



    Tudo se passa em 2540 d.C, perdão...Tudo se passa em 634 d.F (depois de Ford) em uma sociedade organizada por castas. Você pode estar se perguntando: “Tá legal, mas sempre existiu indiretamente separação por ‘castas’,então qual a novidade disso?” A novidade é que as castas não se dividiam de acordo com o lugar que as pessoas nasciam...peraí,eu disse ‘nasciam’? Esse conceito NASCER não existe mais.Falar sobre Pai e Mãe era apenas para se referir a um fato, passado, onde o nascimento se dava apenas na relação entre um homem e uma mulher, mas tudo isso era antes do nosso Ford.

     A produção de seres humanos agora é em série,criados em laboratório, na maioria das vezes através do Processo Bokanovsky, onde geneticamente apenas um óvulo poderia gerar 96 gêmeos. Desde a ‘criação’ desse ser “humano”, ele era manipulado biologicamente e condicionado a fazer os trabalhos de sua casta além de,através do sono, serem condicionados através do Sistema Hipnopédico, que consistia em falar centenas de vezes uma mesma frase, para ficar gravado no subconsciente e acabar por tornar-se uma verdade (usada constantemente para afirmar quão bonito era o Estado e suas leis)

    Cada casta usava uma cor de roupa e eram separadas da seguinte maneira : Alfa (Classe mais alta (TOPO) – Cor: Cinza) , Beta (Cor:Amora), Gama (Cor:Verde), Delta(Cor:Cáqui) e Ípsilon (Classe mais baixa (BASE) – Cor:Preto)

                                                                                  (professorreider.weebly.com)

     Além disso, desde a infância eles eram estimulados a brincadeiras com um fundo ‘erótico’, condicionando-os a prosmicuidade.”Todos são de todos” é um lema existente nessa sociedade, sofrendo muita repressão quem não segui-lo. Livros também eram abomináveis, condicionavam-os (com choques elétricos) para ficarem sempre longe de qualquer livro, para evitar um futuro questionamento e desestabilidade social.Religiosidade também não era permitida, apenas devoção ao grande Ford.

     Todos sentiam-se felizes com suas funções na sociedade (já que haviam sido condicionados de acordo com a casta). Não havia reclamações, todos eram “felizes” e “adoravam” o Estado, até mesmo qualquer conflito interno ou desejo era controlado através de uma dose de felicidade através da substância/droga chamada “soma” que era oferecida aos trabalhadores em todo fim do expediente, a fim de não desestabilizar a ordem da sociedade.

    Depois de toda essa explicação sobre a nova sociedade, eis que surge Bernard Marx, um alfa um pouco diferente fisicamente dos outros (em um mundo onde todos são iguais,ser um pouco mais baixo rende desconfianças), que parecia ser o único insatisfeito com a sociedade. Em uma viagem de trabalho, com Lenina – sua secreta paixão, pois era um crime gostar realmente de apenas uma pessoa,era anti-ético – ele descobre um lugar chamado ‘Malpaís’ (uma espécie de reserva indígena do nosso tempo, onde os ‘selvagens’ do passado (pessoas que não faziam parte da nova sociedade, isolados de tudo) andavam livremente e procriavam ao estilo natural) .É nessa reserva que Bernard encontra Linda e seu filho (que são rejeitados pela civilização,visto que Linda era uma Beta, porém teve que fugir da sociedade após descobrir que estava grávida (que absurdo engravidar :O ) , e pelos selvagens, por conta de Linda sempre dizer que sua vida era péssima, diferente da sociedade,onde ela se sentia tranquila).

    O caminho das duas sociedades estão quase colidindo, qual será o desfecho dessa sociedade distópica?
A resposta você só encontrará no livro ‘Admirável Mundo Novo’...


   Depois de ler essa incrível obra, vemos o lado profeta de Aldous. Na leitura do livro você pensa ‘Bela distopia, mas  foge bem da realidade’, mas se você analisar bem, o futuro de Huxley já está começando agora. Vemos que a tecnologia e a ciência moldam o homem moderno a ser mais insensível. O soma já está na rua, por um preço bem acessível (e que concordem comigo os alcoólatras e dependentes químicos). A manipulação midiática soltando tanto lixo em nosso subconsciente e depravando nossos valores. Sim, somos felizes, Brasil é pentacampeão, o que mais importa?... falta realmente só o Pão, porque o Circo já está armado.




Extra: Músicas que serão olhadas de outra maneira depois de ler 'Admirável Mundo Novo' 

Pitty - Admirável Chip Novo

[...Parafuso e fluido em lugar de articulação
Até achava que aqui batia um coração
Nada é orgânico, é tudo programado
E eu achando que tinha me libertado.
Mas lá vem eles novamente e eu sei o que vão fazer:
Reinstalar o sistema



Pense, fale, compre, beba
Leia, vote, não se esqueça
Use, seja, ouça, diga
Tenha, more, gaste e viva...]




Zé Ramalho - Admirável Gado Novo


[Vocês que fazem parte dessa massa que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar e dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem à margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem já sente a ferrugem lhe comer

Ê, ô ô, vida de gado, povo marcado, ê, povo feliz...]